1 de março de 2021

Resenha | Moxie - Jennifer Mathieu

Autora: Jennifer Mathieu

Tradutora: Ana Guadalupe

Número de páginas: 288

Ano: 2018

Editora: Verus

Skoob: AQUI

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Sinopse: Vivian Carter está cansada. Cansada da direção da escola, que nunca acha que os jogadores do time de futebol estão errados. Cansada das regras de vestuário machistas, do assédio nos corredores e dos comentários babacas dos caras durante a aula. Mas, acima de tudo, Viv está cansada de sempre seguir as regras.

A mãe de Viv era dura na queda, integrante das Riot Grrrls nos anos 90. Inspirada por essas histórias, Viv pega uma página do passado da mãe e cria um fanzine feminista que distribui anonimamente para as colegas da escola. É só um jeito de desabafar, mas as garotas reagem.

Logo Viv está fazendo amizade com meninas com quem nunca imaginou se relacionar. E então ela percebe que o que começou não é nada menos que uma revolução feminista no colégio.

 


Garotas Moxie Dão o Troco!

East Rockport, é a epítome das cidadezinhas do interior do sul dos Estados Unidos: careta, limitada e machista. O Colégio East Rockport, por sua vez, eleva estas três características a sua máxima potência. Lá é um lugar onde homens comandam, reinam e ditam todas as regras. As meninas, se quiserem chegar ao último ano sem passar por nenhuma grande humilhação - pois pequenas humilhações elas passam todos os dias - precisam encarar tudo como uma grande brincadeira, afinal, boys will be boys, certo? Errado!

Vivian Carter já não aguenta mais o ambiente tóxico do colégio, que vai desde a sala de aula, passa pelos corredores e chega à diretoria. Vivian admira o passado de Lisa, sua mãe, como uma das integrantes do Riot Grrrl, um movimento punk feminista underground dos anos 90, e queria ter a coragem que a mãe teve para poder lutar por respeito no Colégio East Rockport.

Vivian aguenta até onde pode, mas o comportamento daqueles que deveriam zelar pelo bem-estar de todos os alunos está cada vez mais arbitrário, e andar nos corredores do colégio sendo uma menina está a cada dia mais desconfortável.

— Isso é ridículo — diz, e nenhuma de nós reage. Só ficamos olhando para ela enquanto Sara enxuga os olhos com um guardanapo. — Tô falando sério — Lucy continua. — Obrigar as meninas a monitorarem seu comportamento e sua aparência porque os meninos teoricamente são incapazes de se controlar? Essa merda é mais velha que voltar no tempo.

Deste modo, sem revelar sua identidade e inspirada na caixa de recordações da época em que sua mãe era uma Riot Grrrl, Vivian cria um zine, uma espécie de revistinha a qual dá o nome de Moxie e que tem o intuito de mostrar para as meninas do Colégio East Rockport toda a sua indignação.

Com o zine, Vivian espera chamar a atenção de outras meninas e pede sinais para saber quantas estão se sentindo da mesma forma. A reação começa tímida, mas a medida que os zines vão saindo, mais meninas aderem ao movimento, algumas delas chegando a criar seus próprios eventos Moxie. Quem não fica nada contente é a diretoria do East Rockport, que tenta coibir as alunas à base de ameaças. Só que a revolução já começou!

Chegou a hora das garotas comandarem. Chegou a hora das garotas reinarem. Chegou a hora das garotas ditarem as regras. Pois garotas Moxie vão à luta e dão o troco!

Meu coração acelera, minhas bochechas queimam, minhas mãos não param quietas e eu pego todos os itens de que preciso: cola líquida, canetinhas pretas, folhas sulfite brancas.
E a revolta impossível de apagar.
Acampada no meio da minha cama, começo a trabalhar e de vez em quando me obrigo a fazer uma pausa para tomar um pouco de ar.
Talvez minha mãe tenha razão. Talvez um dia eu saia de East Rockport.
Mas antes preciso causar um incêndio.

••••••••••

Para quem ainda não sabe, Moxie vai ganhar uma adaptação que estreia na Netflix na próxima quarta-feira, dia 03 de março. O livro estava mofando na estante desde 2018, mas vi na estreia do filme a oportunidade perfeita para finalmente fazer esta leitura. Young Adult não é muito minha praia, mas Moxie, um dos maiores sucessos de Jennifer Mathieu, conseguiu me conquistar.

Não sei vocês, mas eu literalmente tenho uma lista onde anoto livros que quero que meus filhos leiam, e Moxie foi a mais recente adição. Com uma linguagem fácil, atraente e sem didatismo, Jennifer consegue captar a atenção do leitor logo nas primeiras páginas da história das meninas do Colégio East Rockport.

A trama de Moxie é majoritariamente focada em um ambiente escolar machista e opressor que coloca os homens, principalmente os jogadores de futebol, num patamar elevadíssimo enquanto negligencia outras atividades escolares, principalmente aquelas que envolvem meninas. Enquanto o sexo masculino é livre para agir e falar a seu bel-prazer, o sexo feminino é podado, vigiado e diminuído. Há checagens de roupas com a desculpa de que a vestimenta pode "distrair" os meninos e apenas comportamentos femininos submissos e subservientes são enaltecidos e definidos como "comportamentos de uma verdadeira dama". Ou seja, não é um colégio, é o inferno na Terra!

Vivian é uma menina que sempre se incomodou com a forma como as coisas eram conduzidas em seu colégio, mas sabia que a melhor maneira de não virar alvo das gozações era se manter calada e invisível. Porém, há uma quantidade de sapos que somos capazes de engolir nessa vida, e conforme vai revisitando o passado ativista de sua mãe, Vivian descobre um lado seu que ela nem sabia que existia; um lado que quer expor tudo de errado que acontece no Colégio East Rockport.

O Moxie nasce de uma revolta, mas logo se torna um movimento de união, algo que surpreende até mesmo Vivian. Havia uma divisão tácita entre as próprias meninas que se dissolve a medida que os zines vão sendo lançados. Vivian entende e Jennifer Mathieu nos mostra o quanto é importante pensarmos no feminismo como um movimento interseccional; um movimento que engloba mulheres cis, trans, pretas, brancas, amarelas, deficientes e etc. As mulheres experimentam a opressão de formas variadas e com intensidades diferentes, então fiquei muito feliz em ver um livro juvenil se preocupando, ainda que de maneira singela, em mostrar esta vertente do feminismo.

É muito gostoso acompanhar o ativismo dessas adolescentes. Não esperem grandes feitos e acontecimentos memoráveis, afinal, são adolescentes descobrindo o poder da própria voz. Porém, é aí que se encontra a beleza de Moxie! Eu, aos trinta e dois anos, fiquei emocionada em alguns momentos. Momentos onde me vi e pensei em como eu poderia ter agido diferente e em como, caso eu seja mãe de uma menina, criarei minha filha para enfrentar situações como estas e como, caso eu seja mãe de um menino, o criarei para nunca reproduzir tais absurdos.

E por falar em meninos, a representação masculina em Moxie é bem variada. Há o avô de Vivian que enxerga toda essa movimentação como uma grande besteira, coisa típica da idade. Há Mitchell Wilson, astro do time de futebol que consegue se safar de tudo por ser filho do diretor da escola, há o próprio diretor que é um grande babaca corrupto e há aqueles que se salvam, como Seth Acosta. 

Seth é o interesse amoroso de Vivan, mas calma, pois o romance não é o foco do livro. O relacionamento deles é uma gracinha e o próprio Seth é um fofo, um menino que consegue enxergar a necessidade do movimento e que até comete alguns deslizes, mas sempre está disposto a aprender.

Vivian, como eu disse mais acima, é madura, mas tem seus momentos aborrecentes sendo a grande maioria deles quando tem de lidar com o novo namorado da mãe. Mas ela é uma protagonista carismática que consegue conduzir bem a narrativa. Ela cresce bastante ao longo da história e eu me peguei querendo ler um livro dela na faculdade, ia ser muito bom! 

Há outras personagens que merecem destaque. Lucy, filha de imigrantes mexicanos que é transferida para o Colégio East Rockport e fica estarrecida com o ambiente tóxico e com a passividade de todas as meninas. Em sua antiga escola, Lucy fazia parte de clubes feministas e é ela a primeira a aderir ao Moxie com grande entusiasmo. Já Claudia, melhor amiga de Vivian, representa a parcela feminina que entende a importância do movimento, mas tem receio de aderir e se rotular. A mãe de Vivian também é interessante. A juventude de Lisa serviu de grande inspiração para Vivian, mas a própria Lisa perdeu um pouco de sua essência com a morte do marido e com as responsabilidades de mãe solteira. Gostei de acompanhar o relacionamento saudável entre mãe e filha, ainda que haja algumas rusgas aqui e ali.

A edição de Moxie está linda. A capa é um arraso e dentro ainda temos reproduções dos zines criados por Vivian. Com folhas amareladas e diagramação confortável, o livro, que é narrado em primeira pessoa, é dividido em vinte e cinco capítulos e pode ser lido em uma sentada só. A tradução de Ana Guadalupe está muito coesa e coerente, o que proporciona uma ótima experiência de leitura.

No mais, só posso deixar aqui a minha indicação. Leiam Moxie e presenteiem um jovem com um exemplar de Moxie! 💪



13 comentários:

  1. Oi Tami, sua linda, tudo bem?
    Estou super animada para ver o filme, o trailer é contagiante. Eu não tenho o livro, então quem vai resenhar o livro e o filme lá no blog vai ser a Bel. Essa capa ficou muito legal. Esse colégio é um absurdo, o problema é que infelizmente ele é real. Quantas histórias milhares de meninas e mulheres têm para contar? Por isso livros como esses são tão importantes. Precisamos debater para conseguir mudar alguma coisa. Dica mais do que anotada. Adorei sua resenha!!!
    beijinhos.
    cila.
    https://cantinhoparaleitura.blogspot.com/

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    1. Verdade, Cila. Seria muito bom se situações como estas ficassem apenas na ficção...

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  2. Oi, Tamires! Uau sua resenha está completa hein. Parabéns! A obra parece-me incrível. Que bom que você o leu e gostou da leitura, pois obras assim precisam ser lidas e discutidas amplamente em prol da igualdade dos sexos numa sociedade machista. Adorei a capa deste livro. Abraço!

    https://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com

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  3. Como eu acabei de comentar na tua foto no ig, vou ficar só com o filme.
    Alguns anos atrás eu super leria esse livro, mas ultimamente ando numa vibe completamente diferente
    Beijos
    Balaio de Babados

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    1. Ahhh eu também tô, mas tava na estante, então pensei: por que não? Acabou que foi uma feliz surpresa! :)

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  4. Oi Tamires, tudo bem?
    Achei a proposta do livro interessante, mas vou querer assistir ao filme primeiro, para ver o que acho. Ótima resenha!!

    *bye*
    Marla
    https://loucaporromances.blogspot.com/

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  5. Olá, Tamires.
    Eu quis muito ler esse livro quando vi a Bianca do Queria Estar Lendo falando dele. Mas acabei deixando de lado e hoje não sei se leria. Mesmo parecendo ser um ótimo livro. Talvez eu assista o filme hehe.

    Prefácio

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  6. Esse livro é tão necessário, mas que vejo pouco pessoas falando sobre! Quando li entrou para meus favoritos, e estou animada para assistir ao filme, pelo que vi do trailer eles foram bem fieis dentro do possível.


    Blog Profano Feminino

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    1. Pois é, vamos ver se agora com o filme e com o relançamento. Talvez ele receba a atenção que merece.

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Tami Marins

Carioca e leonina, acha que nasceu na época errada. Lê desde que se entende por gente e é viciada em séries e em café. Escuta sempre as mesmas músicas, assiste sempre aos mesmos filmes e sonha escrever seu próprio livro.

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